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O agricultor e líder camponês Ronilson de Jesus Santos, de 53 anos, foi assassinado a tiros na tarde da última sexta-feira (18), no quintal de sua casa, no assentamento Virola Jatobá, localizado no município de Anapu, sudoeste do Pará — uma das regiões com mais conflitos agrários no país. Ronilson era uma das principais lideranças locais da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e representava 120 famílias assentadas na área.
Segundo relatos de moradores, o crime ocorreu por volta das 14h20, logo após seu filho caçula sair para comprar peixe. Ronilson foi encontrado com um tiro na cabeça enquanto lavava roupas. Testemunhas afirmam ter ouvido os disparos, mas o número de tiros ainda não foi confirmado.
Quatro dias antes de ser assassinado, o agricultor havia publicado um vídeo denunciando a presença de madeireiros e pistoleiros na região. Nas imagens, ele alerta para a construção de barracos por invasores dentro da área do assentamento e a destruição de plantações. “Os fazendeiros estão ali construindo barraco, tirando estaca, fazendo tudo, fazendeiro com pistoleiro dentro da área. Isso não pode acontecer”, denunciava em vídeo.
Apesar disso, a Polícia Civil do Pará informou que a Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) de Altamira está investigando o caso e que está buscando descobrir a motivação do crime.
O assassinato de Ronilson por pistoleiros acendeu um novo alerta sobre a insegurança na região, marcada historicamente por assassinatos aos ativistas e camponeses pela terra. O crime ocorreu na mesma área onde a missionária norte-americana Dorothy Stang foi morta em 2005.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, solicitou à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que o assentamento e o acampamento do Vale do Pacuru sejam incluídos no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos, que não têm dado respostas à altura dos casos alarmantes de violência reacionária no campo. O Brasil foi o país que mais matou ativistas "ambientais e líderes comunitários" em 10 anos segundo o Global Witness de 2021.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que o assentamento Virola Jatobá, criado em 2004, é considerado "consolidado" desde 2018 por decreto que estabelece a área demarcada após 15 anos de acampamento, ainda assim, há ação judicial em andamento e pressão constante de invasores. Uma reunião estava agendada para maio com a participação de Ronilson, que buscava soluções junto ao Incra para conter os conflitos.
Ronilson de Jesus Santos deixa esposa e três filhos. A sua morte aprofunda a insegurança dos camponeses frente aos madeireiros e seus pistoleiros na disputa pela área.