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Ronilson de Jesus Santos, liderança de assentamento rural, foi morto a tiros na mesma área onde Dorothy Stang foi assassinada em 2005
Ronilson de Jesus Santos, liderança de assentamento rural, foi morto a tiros na mesma área onde Dorothy Stang foi assassinada em 2005

O agricultor e líder camponês Ronilson de Jesus Santos, de 53 anos, foi assassinado a tiros na tarde da última sexta-feira (18), no quintal de sua casa, no assentamento Virola Jatobá, localizado no município de Anapu, sudoeste do Pará — uma das regiões com mais conflitos agrários no país. Ronilson era uma das principais lideranças locais da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e representava 120 famílias assentadas na área.

Segundo relatos de moradores, o crime ocorreu por volta das 14h20, logo após seu filho caçula sair para comprar peixe. Ronilson foi encontrado com um tiro na cabeça enquanto lavava roupas. Testemunhas afirmam ter ouvido os disparos, mas o número de tiros ainda não foi confirmado.

Quatro dias antes de ser assassinado, o agricultor havia publicado um vídeo denunciando a presença de madeireiros e pistoleiros na região. Nas imagens, ele alerta para a construção de barracos por invasores dentro da área do assentamento e a destruição de plantações. “Os fazendeiros estão ali construindo barraco, tirando estaca, fazendo tudo, fazendeiro com pistoleiro dentro da área. Isso não pode acontecer”, denunciava em vídeo.

Apesar disso, a Polícia Civil do Pará informou que a Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) de Altamira está investigando o caso e que está buscando descobrir a motivação do crime.

O assassinato de Ronilson por pistoleiros acendeu um novo alerta sobre a insegurança na região, marcada historicamente por assassinatos aos ativistas e camponeses pela terra. O crime ocorreu na mesma área onde a missionária norte-americana Dorothy Stang foi morta em 2005.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, solicitou à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que o assentamento e o acampamento do Vale do Pacuru sejam incluídos no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos, que não têm dado respostas à altura dos casos alarmantes de violência reacionária no campo. O Brasil foi o país que mais matou ativistas "ambientais e líderes comunitários" em 10 anos segundo o Global Witness de 2021.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que o assentamento Virola Jatobá, criado em 2004, é considerado "consolidado" desde 2018 por decreto que estabelece a área demarcada após 15 anos de acampamento, ainda assim, há ação judicial em andamento e pressão constante de invasores. Uma reunião estava agendada para maio com a participação de Ronilson, que buscava soluções junto ao Incra para conter os conflitos.

Ronilson de Jesus Santos deixa esposa e três filhos. A sua morte aprofunda a insegurança dos camponeses frente aos madeireiros e seus pistoleiros na disputa pela área.

  • há 21 horas
  • 4 min de leitura

Foto/Reprodução: Vatican Media
Foto/Reprodução: Vatican Media

Morreu nesta segunda, 21/04, Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco, chefe da Igreja Católica desde 2013. Expressão de uma profunda crise da instituição milenar a qual se dedicou toda a vida, seus atos só podem ser entendidos no interior deste contexto.


É certo que Francisco proferiu frequentes discursos em defesa dos pobres e contra as guerras de agressão mundo afora, bem como apelos para reformas dentro da Igreja. Nomeou mulheres para postos-chave e autorizou a benção a casais do mesmo sexo, levando os setores mais abertamente reacionários do catolicismo a condenar o seu pontificado. Isso, no entanto, não reverteu a cruzada anti-aborto que caracteriza a igreja católica, nem os escândalos de corrupção e pedofilia que seguem grassando no interior das seculares estruturas do Vaticano. Há apenas poucos dias, Francisco assinou a dissolução da irmandade Sodalício da Vida Cristã (SVC), fundada no Peru, na década de 1970, e acusada de uma série de graves crimes.


Na própria Argentina, Bergoglio foi acusado por diversas instituições de direitos humanos por sua conivência com o regime militar fascista (1976-1983), praticando cegueira deliberada frente aos abomináveis crimes cometidos por Videla e seus asseclas, inclusive contra sacerdotes que apoiavam a resistência popular. Seja como for, tenha Bergoglio, uma vez tornado Francisco, abraçado sinceramente ou não a crença em uma espécie de “reformismo católico”, seus discursos e as suas medidas significaram a busca da cúpula do Vaticano (cujo lastro de crimes e associação com o fascismo histórico é interminável) por recuperar uma legitimidade perdida pela sucessão de escândalos e pelo crescimento do protestantismo e sua conversão em fenômeno de massas na América Latina, maior bastião católico do mundo. É normal que aristocracias ameaçadas pela contestação externa e divisão interna façam apelos à concertação e ao diálogo, de modo a preservar a essência das estruturas que representam.


Além deste aspecto político-prático, há outro doutrinário. É certo que Francisco condenou as guerras no mundo e fez apelos ao cessar-fogo, inclusive na Faixa de Gaza, recentemente, mas os fez nos estritos limites do chamamento à “paz” e ao diálogo “entre todos”. Enquanto discursava em defesa dos pobres e pela paz mundial, abençoava notórios genocidas como Modi (que mantém a militarização da Caxemira e pratica o extermínio contra as bases vermelhas naxalitas), recebia Javier Milei para a reconciliação (após Milei dizer na campanha eleitoral que Francisco representava o “Maligno”) e teve como um dos seus últimos compromissos públicos a reunião com J.D.Vance, falcão da indústria armamentista e vice-presidente dos Estados Unidos. Na sua última mensagem pública, a da Páscoa do último domingo (20/04), disse Francisco, por exemplo:


“Apelo a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para lutar pelos necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as ‘armas’ da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar a morte!”.


Oras, qualquer burguês concorda com semelhantes apelos genéricos à paz e ao desenvolvimento, porque mesmo os piores criminosos de guerra dizem agir em nome de tais valores. Em outro trecho, Francisco assim se referiu à situação na Faixa de Gaza:


“Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, bem como do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar pelo mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar mortes e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz.”


Como se vê, enxerga-se uma simetria entre explorados e exploradores que não existe nem pode existir na realidade. Naturalmente que não há um sinal de igualdade entre o sofrimento do povo palestino e o dos seus carrascos, fardados ou paramilitares, que praticam o assassinato e a desterritorialização em massa. A qual clima de antissemitismo Francisco se refere em seus discurso – àquele apontado pelos justificadores do holocausto palestino, que confundem a condenação da guerra de ocupação colonial com antissemistismo? Bençãos genéricas a opressores e oprimidos, tanto quanto condenações genéricas às armas que servem ao genocídio e às armas que resistem ao genocídio, no melhor dos casos não têm qualquer efeito prático ou, pior do que isso, semeiam ilusões e desarmam os espíritos de luta daqueles que precisam lutar pela sua sobrevivência.


É provável que o atual cenário mundial, de escalada do fascismo e de preparação para uma nova guerra de partilha imperialista (já em curso no Terceiro Mundo) torne inaceitável para os potentados católicos e aos complexos jogos de interesses de seus conclaves mesmo estes apelos abstratos ao “bem universal” proferidos por Francisco. Mas essa é uma pugna no seio da ordem, que não diz respeito aos povos, seja de que crença for, que combatem pela redenção histórico-mundana efetiva nos quatro cantos do mundo.


Foto/Reprodução: Robert Gomes
Foto/Reprodução: Robert Gomes


Na terça-feira (15), foi aprovado na câmara de vereadores o PL “Guarda Armada”, que autoriza o uso de armas de fogo por parte da Guarda Municipal da cidade do Rio de Janeiro.


Ainda que possa passar por mudanças, este projeto de lei garante a possibilidade de “policiamento ostensivo” por parte da Guarda Municipal, que também poderá ser constituída de agentes temporários. Paes, que já havia proposto a criação de um “agrupamento de elite” armado independente de outras forças, procura reproduzir o modelo de militarização e aumento da violência contra a população que tem se tornado comum nas gestão dos municípios e estados por parte de políticos reacionários, como foi o caso recente do assassinato de Ngange Mbaye, trabalhador ambulante senegalês, por parte da PM de Tarcísio na região do Brás, em São Paulo. Conhecido pelo sua violência “sem dó” em cima dos camelôs, Paes procura agora ameaçar a vida dos trabalhadores, que antes costumavam ter que enfrentar os cassetetes da guarda municipal e agora terão que lidar com esta mesma força pronta ameaçando-os de morte caso não cedam aos desejos de “limpeza urbana” que ele frequentemente promove na região do centro da cidade.


O projeto de lei foi aprovado pouco tempo depois que o prefeito Eduardo Paes anunciou sua visita a El Salvador, onde o reacionário presidente Nayib Bukele se tornou reconhecido pelo encarceramento em massa e repressão intensa contra a população em nome do combate às gangues no país. Recentemente ganhou maior atenção com o seu papel nas deportações criminosas de imigrantes promovidas por Donald Trump, em que Bukele cedeu as prisões de seu país, mais especificamente o chamado Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), como destino dos imigrantes capturados pelo governo americano. Com isso, o prefeito do Rio de Janeiro joga com interesses eleitorais e se projeta para o Governo do Estado, já anunciando que não só procurará manter a política de chacinas e repressão policial na cidade, que hoje é promovida por Cláudio Castro, mas que buscará novos modelos de intensificar e expandir esta política antipovo.


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